VASCO MIRANDA
( Portugal )
Vasco Miranda (1022 - 1976) é o pseudónimo literário de Arnaldo Cardoso Ferreira, nascido, em 1922, em Junça, Concelho de Almeida, Portugal.
Respira Naturalmente
Respira naturalmente como erva
Acordada ao orvalho da manhã.
Voz exacta da noite é o silêncio e a
Seta que trespassa os nossos olhos fundidos
No espanto do milagre
Inominado.…
Respira como quem canta.
Natural. Espontâneamente.
Ou como quem apenas vive. Ou
Mente, e apenas mente.
No olhar traído,
A sombra dúctil de ser
Força móvel e irreversível.
Gume de um só lado. Vamos!
Respira. Abre, diurno, à inflexível luz
A dor do teu olhar calado.
ELEGIA PARA UM COMPANHEIRO PERDIDO
Seu destino foi o das raízes que apodrecem no chão antes de vir
a noite. Antes de vir a noite.
Veio como uma promessa
Cresceu
Deu folhas e flores
Mas os frutos abortaram antes de nascer.
A geada o queimou:
Aquela geada branca
Com a branca neve
Que parece maná
É o sol de cresta impenitente...
Aquela geada branca
Como as brancas flores
Que com ele desceram ao coval
Onde se recolheu a última esperança.
Seu destino foi o das raízes que apodrecem cedo.
Vejo como uma promessa
Cresceu
Deu folhas e flores
E recolheu-se em si numa floração triste de lábios roxos.
Deus o sumiu na eternidade.
Seu destino foi o de todas as esperanças ceifadas
A renascer constantemente das cinzas da própria cresta.
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